segunda-feira, fevereiro 14, 2005

hora da partida

(pintura de manuela pinheiro "s.t.")


o inevitavel dia de cor púrpura acorda
no sono impossivel de quem aguarda
e é nesta imensa espera
que a coragem ressuscita e se faz luz

os destroços de vida espalhados
unem se por dedos cegos que lhes tocam
enquanto a manhã chega e acorda as poeiras
que o tempo criou de horas esquecidas

tanto tempo...

um suspiro avisa o momento
em que chegou a hora da partida,
e já é o dia que o mar traz em ondas
que molham a areia da maré-baixa do desespero

um leve movimento avisa também
um regresso anunciado de quem um dia partiu,
que quebrou a angústia
e concertou os fusíveis da alma desesperada

tanto tempo...chegou a hora da partida !

ruiluis

sábado, fevereiro 05, 2005

triste recordação sobre a morte dos meus olhos

lembras-te dos meus olhos quando morreram ?

não escutaste neles um sonido solitário
de um violino amargurado
no adro de uma igreja sem religião ?

não viste neles o nómada
guiado pelas estrelas e pelo vento
neste grande deserto aonde me deixaste ?

lembras-te dos meus olhos quando morreram ?

agora eles rejeitam olhares estranhos
e sorrisos indiferentes,
como beijos de um batom perturbante

agora já não desejam desvendar
o segredo e a fantasia,
de todas as noites dos amantes


alexander ibis